III – A Escolha.
―Isso não
importa. – ela disse, me virando para uma porta
que eu não tinha reparado ali antes e me disse. ― Eu sei que é a sua decisão, mas você não pode ir para a Erudição ou Audácia. Vai
para Amizade. – ela disse, abrindo a porta e me
empurrou para fora, fechando a porta na minha
cara.
Decidi ir
para casa andando. Eu não quero chegar em casa cedo e nem ter que explicar para
Marcus porque eu cheguei em casa cedo. Andei em
uma mistura de edifícios limpos e novos e por esqueletos de edifícios em
decadência. Fui andando a passo de formiga afinal,
eu não estou nem ai para o que o Marcus vai fazer comigo quando eu chegar em
casa, amanhã eu vou embora para a Audácia.
Depois de uma hora e meia caminhando,
cheguei ao lugar que eu menos queria estar. Paro em frente à porta para poder
respirar e pensar no pior, respirei e abri a porta e não encontrando Marcus na
sala e então fui para o meu quarto.Quando abri a
porta, dei de cara com Marcus sentado na ponta
da minha cama olhando para mim com um olhar irritado e que poderia me bater a
qualquer momento, arregalei meus olhos quando ele se levantou e caminhou até
mim.
―Você não
deveria estar em casa à uma hora? – ele
perguntou, se aproximando.
―Er... Er... Eu vim andando
para casa. – eu disse, me afastando dele.
―E quem te
deu autorização? – ele se aproximou de novo, mas
eu dei um passo para trás e encontrei a parede. Eu fiquei olhando para o chão
enquanto ele me olhava, até que ele colocou a mão no meu queixo levantando, para eu poder olhar para ele. ―Nunca mais faça isso, eu mando em você. – ele rosnou, como um cachorro furioso.
―Você não
manda em mim, Marcus. – eu gritei entre dentes, ele agarrou meu pescoço com as duas mãos
e ficou apertando, me deixando quase se ar.
―Se... Se... se eu fosse você eu não faria isso.
– dei uma pausa, pela falta de ar. ― Por que vai
ficar marcas e amanhã na Cerimônia de Escolha algumas pessoas podem ficar me
perguntando “Hope, por que o seu pescoço tem
marcas de dedos?”. – eu falei, tentando fazer
uma encenação.
Ele tirou as
mãos do meu pescoço e aproximou o rosto perto do meu. Eu já tinha raiva de Marcus porque ele bate no Tobias e me bate também, mas eu não sei o que passou na minha cabeça, que eu
com tanta raiva, cuspi no rosto dele. O rosto de
Marcus estava vermelho e ele parecia que ia explodir, ele me acertou um tapa, que me fez cair no chão com a força do tapa. Minhas lágrimas escorrem pelo meu rosto com facilidade, senti uma ardência na boca,
levei a mão a ela e tinha sangue.
―Eu te odeio!Eu te odeio com todas as minhas forças! – eu
gritei, enquanto minhas lágrimas
lavavam meu rosto. No rosto dele só se via raiva, e parecia que ele ia me bater mais a qualquer
momento, quando eu achei que ele ia me bater, ele simplesmente limpou a
garganta e falou:
―Vá fazer o
jantar. – assim que ele disse aquilo, eu sai do quarto em disparada para baixo.
Chegando ao
andar debaixo, fui ao banheiro e lavei o rosto e
a boca, me olhei no espelho, meu rosto tinha uma
marca vermelha com cinco dedos. Sai e fui para a cozinha, eu descongelei dois pedaços de frango e cortei as cenouras uma a
uma, coloquei as ervilhas e a cenoura para cozinharem
juntas. Cozinhei os dois pedaços de frangos em uma panela separada, depois de
pronto, eu comecei a colocar os pratos e talheres na mesa de
jantar. Quando Marcus chegou, eu senti um
arrepio quando ele passou por mim, nós jantamos em silêncio, que só dava para ouvir os barulhos dos talheres. Eu
já estava quase acabando de comer quando ele resolveu falar:
―Qual foi o
resultado do seu Teste de Aptidão? – ele perguntou,
me olhando sério.
―Eu não posso
falar. – eu falei, olhando para ele.
―Eu sou teu
pai e você tem que me falar! – ele gritou, se
levantado e batendo com as mãos na mesa, eu arregalei os meus olhos. ― FALA! – ele gritou, com o rosto vermelho, pegou os meus pulsos e ficou
apertando.
―Er... Er abnegação isso, isso. – eu gaguejei, falando e olhei para baixo fugindo de seus olhos
furiosos.
―Hum, ótimo! – ele disse meio incerto.
Novamente, um silêncio se instalou entre nós, dava até para ouvir
os grilos. Ele, de vez em quando me olhava com
duvida, mais eu tentava ignorar isso, me concentrar em comer o resto de comida e pensar em meu futuro.
Ele terminou
de comer e saí para seu quarto, eu fui lavar a louça suja para poder ir deitar.
Quando terminei de lavar a louça, fui para o quarto devagar, porque a cada degrau,
meu corpo doía todo como se alguém tivesse me enfiando uma faca varias vezes.
Cheguei ao ultimo degrau já agradecendo, tomei banho um pouquinho demorado,
coloquei meu pijama feio, me olhei de novo no
espelho a marca de mão do meu rosto já tinha
sumido, mas no meu pescoço ainda estavam lá, fui
para a cama minutos depois, e eu já sentia meus olhos pesarem de cansaço.
(...)
Marcus e eu
pegamos o ônibus perto de casa para ir para a cerimônia, o ônibus estava lotado
de pessoas com roupas cinza, é claro que eu
estava em pé o Marcus disse para levantar e dar o banco para uma senhora, então eu fui o caminho inteiro em pé. Quando cheguei, eu levanto minha cabeça para olhar o topo do Eixo, o maior edifício da cidade,eu
até acho que dá para ver ele de todos os lugares de Chicago. Para o meu azar, eu e Marcus subimos de escadas, cheguei a contar os degraus mais eu acabei me
perdendo na conta, depois de vinte e muitos andares chegamos ao lugar da
Cerimônia de Escolha.
O salão é organizado em círculos concêntricos. Na ponta
oposta da porta estava a Abnegação, fui andando na frente de Marcus por que não
queria falar com ninguém sobre a escolha. Me sentei nas cadeiras do fundo, ao
lado da nossa facção estavam a Amizade sempre sorrindo, ao lado dele bem no
meio a Erudição com os seus narizes empinados, e a Franqueza e na ponta bem ao
lado da porta estavam a Audácia rindo um pouco alto. No centro das facções
estavam cinco vasilhas,
que representavam cada facção: pedras cinza para
a Abnegação, água para a Erudição, terra para a Amizade, brasas acesas para a
Audácia e vidro para a Franqueza.
Eu comecei a
morder minha bochecha por dentro de nervosismo, olhei para os outros jovens, alguns pareciam nervosos,
outros pareciam calmos. Depois de morder os dois lados da minhas bochechas, eu comecei a morder o lábio inferior.
Meu
nervosismo só aumentou quando o líder da Franqueza,
Jack Kang começou a falar. Meu coração começou a bater mais rápido do que o
normal.
―Sejam bem-vindos. – diz
ele sorrindo com os olhos e a boca. – Sejam bem-vindos à Cerimônia de Escolha.
Sejam bem-vindos à maneira com a qual honramos a filosofia democrática de nossos
antepassados, que afirma que cada homem tem o direito de escolher seu próprio
caminho no mundo.―Nossos dependentes agora têm dezesseis anos. Eles se
encontram no precipício damaturidade, e agora é responsabilidade deles decidir
que tipo de pessoas serão. – A voz de Jack era calma e suave.―Há décadas,
nossos antepassados perceberam que a culpa por um mundo em guerra não poderia
ser atribuída à ideologia política, à crença religiosa, à raça ou ao
nacionalismo. Eles concluíram, no entanto, que a culpa estava na personalidade
humana, na inclinação humana para o mal, seja qual for a sua forma.
Dividiram-se em facções que procuravam erradicar essas qualidades que
acreditavam ser responsáveis pela desordem no mundo.Os que culpavam a
agressividade formaram a Amizade. – o pessoal da Amizade sorriram uns aos
outros.―Os que culpavam a ignorância se tornaram a Erudição. – os eruditas
sorriram, mas foi um sorriso convencido. Reviro
os olhos.―Os que culpavam a duplicidade fundaram a Franqueza. – ele falou
sorrindo e o pessoal da Franqueza sorriu também.―Os
que culpavam o egoísmo geraram a Abnegação. – quando falou ele olhou para nós, sorrindo. Eu gosto da Abnegação, mas não podia viver essa vida apanhando do Marcus
todos os dias.―E os que culpavam a covardia se juntaram à Audácia. – bastou ele
falar isso e gritos, berros, palmas e assobios foram ouvidos.
Depois eu não prestei mais atenção naquele blá, blá, blá
de todos os anos.
―George Taylor. – ele chamou, eu olhei para ver quem era
e um garoto loiro com cabelo na altura dos ombros se transferiu da Amizade para
Erudição.
Meu coração batia tão alto que eu não sei como o Marcus e
a senhora ao meu lado esquerdo não ouviram.
―Alice Black. – ele falou,
e uma menina da minha altura se levantou, ela
parecia totalmente apavorada e caminhou a passo
de formiga, pegou a faca da mão de Jack olhou,
olhou e olhou todas as vasilhas e derrubou seu sangue,
caiu na água da Erudição. Os integrantes da Audácia vaiaram a escolha dela de
se transferir para Erudição, que para eles era como traição.
Depois de
muitos nomes, eu ouvi o meu e naquele momento eu
quase senti meu coração parar. Todos olharam para mim,
inclusive Marcus, o olhar dele era indecifrável, eu me levantei devagar para
não cair por causa do nervosismo. A cada passo que eu dava, parecia uma eternidade, quando eu estava perto dos
recipientes, eu consegui tropeçar nos meus
próprios pés, fechei meus olhos enquanto caminhava esperando risadas, mais não
ouvi, isso me fez lembrar que dois anos atrás, um transferido tropeçou também. Cheguei perto de
Jack, ele me deu a
faca com um sorriso tranquilizador no rosto, peguei a faca da mão dele e me
aproximei dos recipientes, parando bem no meio dele. Coloquei a faca na palma da mão, respirei, respirei, respirei o ar, olhei para minhas
mãos e fiz um corte, fechei a mão com força para
acumular sangue, me concentrei nisso para adiar
a escolha, olhei para os potes e pus a mão direta na vasilha e meu sangue chiou
nas brasas da Audácia.
―Audácia! –
ele falou alto e gritos, palmas e gritos de protesto foram ouvidos.
Eu me
encaminhei para onde a Audácia se encontrava gritando e pulando, um deles me cedeu uma cadeira eu fiquei lá até o final da
cerimônia, não conseguiria olhar para Marcus e
nem para ninguém.
Quando
acabou, os primeiros a saírem foram a Audácia, nós começamos a descer os degraus correndo feito loucos, bom eu me limitei a correr, porque eu sabia que íamos descer acho que mais de quinze andares de escadas, se ouvia gritos, risadas e
conversa alta por todos os lados. Saímos do Eixo,
eu dei graças por ter bastante ar no lado de fora,
seguimos os integrantes da audácia correndo pela rua enquanto corria eu podia
me sentir livre, leve, solta. Pelo canto de olho eu vi um erudito loiro
correndo e olhando para mim.
Os nascidos
na Audácia pararam, pertos de vigas de aço dos trilhos e subiram, eu fiquei
parada olhando feito uma idiota, até que o mesmo garoto me cutucou e me deu
passagem para subir, primeiro eu subi com um
pouco de dificuldade por falta de ar, minhas mãos doíam.Quando terminei de subir,
pode ouvir o apito do trem e vendo uma luz chegando perto, os nascidos
começaram a correr.
―Eles vão
fazer a gente pular no trem em movimento? – ouvi uma menina loira da minha
altura falando. Eu olhei para ela e disse:
―Acho que
sim! – eu falei com um sorriso amarelo, e vi ela fazer uma careta de cansaço.
Nós saímos correndo, eu sentia meus
pulmões doendo como nunca doeram antes pela falta de ar. Eu corri, mas vi o mesmo garoto erudito passando por mim e vi
ele se segurar e pular para dentro do vagão, tentei tudo para correr o mais
rápido que eu podia. Consegui me segurar em uma das barras e quando fui pular
para dentro o garoto loiro erudito me puxou para dentro e ajudou a menina que
corria logo atrás de mim. Eu fiquei sentada entre eles,
tentando respirar.
―Obrigada, eu
sou Flora da Amizade. – ela agradeceu ao garoto no meu dado.
―De nada, eu
sou Noah, Erudição. – ele disse sorrindo de lado e os dois olharam para mim que
ainda tentava respirar.
―Ah, eu sou
Hope, Abnegação. – eu falei, arfando e tentado sorrir, mas
não consegui.
―É, você tropeçou lá. – Flora falou, comum olhar de pena.
―Está na hora! – gritou um dos integrantes da Audácia.
―Para que? –
Flora falou, se levantando e olhando para fora
do vagão. ―Eles estão pulando! – ela quase gritou,
com um olhar de pânico.
Eu e Noah nos
levantamos e chegamos perto dela para olhar, nos olhamos os três por alguns segundos.
―Primeiro as
damas! – Noah falou, com um sorriso nervoso nos
lábios.
―Ok, vamos contar até três.
– eu falei, olhando para Flora. Ela acenou, eu peguei
a mão dela, e fomos para trás respiramos e
contamos― Um... Dois... Três. E corremos para fora do vagão e simplesmente voamos por entre o vão do trem e do prédio. Caímos em um chão duro cheio de pedras, senti pontadas nos
meus joelhos, me levantei, limpei e olhei para Flora, que
sorria como uma criança e vimos Noah cair ao nosso lado,
gritando de tão empolgado.
― Escutem todos! Meu nome é Eric! Sou um dos líderes da
sua nova facção! – grita um homem com voz áspera do outro lado do telhado. Ele
deve ser três anos mais velho que eu, com
piercings nas sobrancelhas e cabelos loiro escuro,
penteado para trás em um topete pequeno, com
tatuagens nos braços e nos dois lados do pescoço
e fica em pé sobre a mureta na beirada do telhado,
como se aquilo fosse uma calçada.Fica olhando para todos com um olhar irritado
. – Alguns andares abaixo de nós, encontra-se a entrada para membros do nosso
complexo. Quem não tiver coragem de pular, não pertence a este grupo. Nossos iniciados terão o privilégio de ir primeiro.
―Você quer
que nós pulemos? – Noah perguntou, ao meu lado, Eric olhou para ele com o olhar que dizia sim.
―Sim. – fala
Eric, com um olhar zombeteiro olhando para Noah.
―Tem água lá
embaixo ou algo do tipo? – o outro Garoto da Erudição perguntou, Eric Bufou e respondeu:
―Você vai ter
que pular para ver. Quem vai ser o primeiro?
Todos ficamos
em silêncio, alguns cochichavam outros só se
olhavam, Eric parecia irritado demais, eu troquei olhares com Flora e Noah, até
que me empurram para frente e eu olhei para trás e vi um garoto ruivo com um
sorriso de deboche e os amigos acompanhando,
rindo. Olhei para frente, todos olhando para mim, eu olhei para Eric,
que me olhava com curiosidade, esperando que eu
fosse para frente.
―Careta, espero que você não tenha medo de altura. – ele
falou rindo e descendo da mureta.
Eu andei até
a mureta, apoiei minhas mãos para olhar para
baixo, quando me inclinei, eu senti vários
arrepios na espinha. Eu não tenho medo de altura
igual Tobias, mas é alto e eu não sei o que tem lá embaixo.
Subi na mureta com dificuldade, olho para eles
Flora e Noah me olhavam com pena, assim coma
alguns outros, mas o ruivo e o grupinho de
idiotas riam, olhei para Eric, que ria e arqueou
uma das sobrancelhas. Me virei para o buraco e puxei todo ar que eu podia para
os meus pulmões, fechei os olhos e pulei para morte ou não.

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