terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Hope - III – A Escolha.


III – A Escolha.
―Isso não importa. – ela disse, me virando para uma porta que eu não tinha reparado ali antes e me disse. ― Eu sei que é a sua decisão, mas você não pode ir para a Erudição ou Audácia. Vai para Amizade. – ela disse, abrindo a porta e me empurrou para fora, fechando a porta na minha cara.
Decidi ir para casa andando. Eu não quero chegar em casa cedo e nem ter que explicar para Marcus porque eu cheguei em casa cedo. Andei em uma mistura de edifícios limpos e novos e por esqueletos de edifícios em decadência. Fui andando a passo de formiga afinal, eu não estou nem ai para o que o Marcus vai fazer comigo quando eu chegar em casa, amanhã eu vou embora para a Audácia.
Depois de uma hora e meia caminhando, cheguei ao lugar que eu menos queria estar. Paro em frente à porta para poder respirar e pensar no pior, respirei e abri a porta e não encontrando Marcus na sala e então fui para o meu quarto.Quando abri a porta, dei de cara com Marcus sentado na ponta da minha cama olhando para mim com um olhar irritado e que poderia me bater a qualquer momento, arregalei meus olhos quando ele se levantou e caminhou até mim.
―Você não deveria estar em casa à uma hora? – ele perguntou, se aproximando.
―Er... Er... Eu vim andando para casa. – eu disse, me afastando dele.
―E quem te deu autorização? – ele se aproximou de novo, mas eu dei um passo para trás e encontrei a parede. Eu fiquei olhando para o chão enquanto ele me olhava, até que ele colocou a mão no meu queixo levantando, para eu poder olhar para ele. ―Nunca mais faça isso, eu mando em você. – ele rosnou, como um cachorro furioso.
―Você não manda em mim, Marcus. – eu gritei entre dentes, ele agarrou meu pescoço com as duas mãos e ficou apertando, me deixando quase se ar. ―Se... Se... se eu fosse você eu não faria isso. – dei uma pausa, pela falta de ar. ― Por que vai ficar marcas e amanhã na Cerimônia de Escolha algumas pessoas podem ficar me perguntando “Hope, por que o seu pescoço tem marcas de dedos?”. – eu falei, tentando fazer uma encenação.
Ele tirou as mãos do meu pescoço e aproximou o rosto perto do meu. Eu já tinha raiva de Marcus porque ele bate no Tobias e me bate também, mas eu não sei o que passou na minha cabeça, que eu com tanta raiva, cuspi no rosto dele. O rosto de Marcus estava vermelho e ele parecia que ia explodir, ele me acertou um tapa, que me fez cair no chão com a força do tapa. Minhas lágrimas escorrem pelo meu rosto com facilidade, senti uma ardência na boca, levei a mão a ela e tinha sangue.
―Eu te odeio!Eu te odeio com todas as minhas forças! – eu gritei, enquanto minhas lágrimas lavavam meu rosto. No rosto dele só se via raiva, e parecia que ele ia me bater mais a qualquer momento, quando eu achei que ele ia me bater, ele simplesmente limpou a garganta e falou:
―Vá fazer o jantar. – assim que ele disse aquilo, eu sai do quarto em disparada para baixo.
Chegando ao andar debaixo, fui ao banheiro e lavei o rosto e a boca, me olhei no espelho, meu rosto tinha uma marca vermelha com cinco dedos. Sai e fui para a cozinha, eu descongelei dois pedaços de frango e cortei as cenouras uma a uma, coloquei as ervilhas e a cenoura para cozinharem juntas. Cozinhei os dois pedaços de frangos em uma panela separada, depois de pronto, eu comecei a colocar os pratos e talheres na mesa de jantar. Quando Marcus chegou, eu senti um arrepio quando ele passou por mim, nós jantamos em silêncio, que só dava para ouvir os barulhos dos talheres. Eu já estava quase acabando de comer quando ele resolveu falar:
―Qual foi o resultado do seu Teste de Aptidão? – ele perguntou, me olhando sério.
―Eu não posso falar. – eu falei, olhando para ele.
―Eu sou teu pai e você tem que me falar! – ele gritou, se levantado e batendo com as mãos na mesa, eu arregalei os meus olhos. ― FALA! – ele gritou, com o rosto vermelho, pegou os meus pulsos e ficou apertando.
―Er... Er abnegação isso, isso. – eu gaguejei, falando e olhei para baixo fugindo de seus olhos furiosos.
―Hum, ótimo! – ele disse meio incerto.
Novamente, um silêncio se instalou entre nós, dava até para ouvir os grilos. Ele, de vez em quando me olhava com duvida, mais eu tentava ignorar isso, me concentrar em comer o resto de comida e pensar em meu futuro.
Ele terminou de comer e saí para seu quarto, eu fui lavar a louça suja para poder ir deitar. Quando terminei de lavar a louça, fui para o quarto devagar, porque a cada degrau, meu corpo doía todo como se alguém tivesse me enfiando uma faca varias vezes. Cheguei ao ultimo degrau já agradecendo, tomei banho um pouquinho demorado, coloquei meu pijama feio, me olhei de novo no espelho a marca de mão do meu rosto já tinha sumido, mas no meu pescoço ainda estavam lá, fui para a cama minutos depois, e eu já sentia meus olhos pesarem de cansaço.
         (...)
Marcus e eu pegamos o ônibus perto de casa para ir para a cerimônia, o ônibus estava lotado de pessoas com roupas cinza, é claro que eu estava em pé o Marcus disse para levantar e dar o banco para uma senhora, então eu fui o caminho inteiro em pé. Quando cheguei, eu levanto minha cabeça para olhar o topo do Eixo, o maior edifício da cidade,eu até acho que dá para ver ele de todos os lugares de Chicago. Para o meu azar, eu e Marcus subimos de escadas, cheguei a contar os degraus mais eu acabei me perdendo na conta, depois de vinte e muitos andares chegamos ao lugar da Cerimônia de Escolha.
O salão é organizado em círculos concêntricos. Na ponta oposta da porta estava a Abnegação, fui andando na frente de Marcus por que não queria falar com ninguém sobre a escolha. Me sentei nas cadeiras do fundo, ao lado da nossa facção estavam a Amizade sempre sorrindo, ao lado dele bem no meio a Erudição com os seus narizes empinados, e a Franqueza e na ponta bem ao lado da porta estavam a Audácia rindo um pouco alto. No centro das facções estavam cinco vasilhas, que representavam cada facção: pedras cinza para a Abnegação, água para a Erudição, terra para a Amizade, brasas acesas para a Audácia e vidro para a Franqueza.
Eu comecei a morder minha bochecha por dentro de nervosismo, olhei para os outros jovens, alguns pareciam nervosos, outros pareciam calmos. Depois de morder os dois lados da minhas bochechas, eu comecei a morder o lábio inferior.
Meu nervosismo só aumentou quando o líder da Franqueza, Jack Kang começou a falar. Meu coração começou a bater mais rápido do que o normal.
―Sejam bem-vindos. – diz ele sorrindo com os olhos e a boca. – Sejam bem-vindos à Cerimônia de Escolha. Sejam bem-vindos à maneira com a qual honramos a filosofia democrática de nossos antepassados, que afirma que cada homem tem o direito de escolher seu próprio caminho no mundo.―Nossos dependentes agora têm dezesseis anos. Eles se encontram no precipício damaturidade, e agora é responsabilidade deles decidir que tipo de pessoas serão. – A voz de Jack era calma e suave.―Há décadas, nossos antepassados perceberam que a culpa por um mundo em guerra não poderia ser atribuída à ideologia política, à crença religiosa, à raça ou ao nacionalismo. Eles concluíram, no entanto, que a culpa estava na personalidade humana, na inclinação humana para o mal, seja qual for a sua forma. Dividiram-se em facções que procuravam erradicar essas qualidades que acreditavam ser responsáveis pela desordem no mundo.Os que culpavam a agressividade formaram a Amizade. – o pessoal da Amizade sorriram uns aos outros.―Os que culpavam a ignorância se tornaram a Erudição. – os eruditas sorriram, mas foi um sorriso convencido. Reviro os olhos.―Os que culpavam a duplicidade fundaram a Franqueza. – ele falou sorrindo e o pessoal da Franqueza sorriu também.―Os que culpavam o egoísmo geraram a Abnegação. – quando falou ele olhou para nós, sorrindo. Eu gosto da Abnegação, mas não podia viver essa vida apanhando do Marcus todos os dias.―E os que culpavam a covardia se juntaram à Audácia. – bastou ele falar isso e gritos, berros, palmas e assobios foram ouvidos.
Depois eu não prestei mais atenção naquele blá, blá, blá de todos os anos.
―George Taylor. – ele chamou, eu olhei para ver quem era e um garoto loiro com cabelo na altura dos ombros se transferiu da Amizade para Erudição.
Meu coração batia tão alto que eu não sei como o Marcus e a senhora ao meu lado esquerdo não ouviram.
―Alice Black. – ele falou, e uma menina da minha altura se levantou, ela parecia totalmente apavorada e caminhou a passo de formiga, pegou a faca da mão de Jack olhou, olhou e olhou todas as vasilhas e derrubou seu sangue, caiu na água da Erudição. Os integrantes da Audácia vaiaram a escolha dela de se transferir para Erudição, que para eles era como traição.

Depois de muitos nomes, eu ouvi o meu e naquele momento eu quase senti meu coração parar. Todos olharam para mim, inclusive Marcus, o olhar dele era indecifrável, eu me levantei devagar para não cair por causa do nervosismo. A cada passo que eu dava, parecia uma eternidade, quando eu estava perto dos recipientes, eu consegui tropeçar nos meus próprios pés, fechei meus olhos enquanto caminhava esperando risadas, mais não ouvi, isso me fez lembrar que dois anos atrás, um transferido tropeçou também. Cheguei perto de Jack, ele me deu a faca com um sorriso tranquilizador no rosto, peguei a faca da mão dele e me aproximei dos recipientes, parando bem no meio dele. Coloquei a faca na palma da mão, respirei, respirei, respirei o ar, olhei para minhas mãos e fiz um corte, fechei a mão com força para acumular sangue, me concentrei nisso para adiar a escolha, olhei para os potes e pus a mão direta na vasilha e meu sangue chiou nas brasas da Audácia.
―Audácia! – ele falou alto e gritos, palmas e gritos de protesto foram ouvidos.
Eu me encaminhei para onde a Audácia se encontrava gritando e pulando, um deles me cedeu uma cadeira eu fiquei lá até o final da cerimônia, não conseguiria olhar para Marcus e nem para ninguém.
Quando acabou, os primeiros a saírem foram a Audácia, nós começamos a descer os degraus correndo feito loucos, bom eu me limitei a correr, porque eu sabia que íamos descer acho que mais de quinze andares de escadas, se ouvia gritos, risadas e conversa alta por todos os lados. Saímos do Eixo, eu dei graças por ter bastante ar no lado de fora, seguimos os integrantes da audácia correndo pela rua enquanto corria eu podia me sentir livre, leve, solta. Pelo canto de olho eu vi um erudito loiro correndo e olhando para mim.
Os nascidos na Audácia pararam, pertos de vigas de aço dos trilhos e subiram, eu fiquei parada olhando feito uma idiota, até que o mesmo garoto me cutucou e me deu passagem para subir, primeiro eu subi com um pouco de dificuldade por falta de ar, minhas mãos doíam.Quando terminei de subir, pode ouvir o apito do trem e vendo uma luz chegando perto, os nascidos começaram a correr.
―Eles vão fazer a gente pular no trem em movimento? – ouvi uma menina loira da minha altura falando. Eu olhei para ela e disse:
―Acho que sim! – eu falei com um sorriso amarelo, e vi ela fazer uma careta de cansaço.
Nós saímos correndo, eu sentia meus pulmões doendo como nunca doeram antes pela falta de ar. Eu corri, mas vi o mesmo garoto erudito passando por mim e vi ele se segurar e pular para dentro do vagão, tentei tudo para correr o mais rápido que eu podia. Consegui me segurar em uma das barras e quando fui pular para dentro o garoto loiro erudito me puxou para dentro e ajudou a menina que corria logo atrás de mim. Eu fiquei sentada entre eles, tentando respirar.
―Obrigada, eu sou Flora da Amizade. – ela agradeceu ao garoto no meu dado.
―De nada, eu sou Noah, Erudição. – ele disse sorrindo de lado e os dois olharam para mim que ainda tentava respirar.
―Ah, eu sou Hope, Abnegação. – eu falei, arfando e tentado sorrir, mas não consegui.
―É, você tropeçou lá. – Flora falou, comum olhar de pena.
―Está na hora! – gritou um dos integrantes da Audácia.
―Para que? – Flora falou, se levantando e olhando para fora do vagão. ―Eles estão pulando! – ela quase gritou, com um olhar de pânico.
Eu e Noah nos levantamos e chegamos perto dela para olhar, nos olhamos os três por alguns segundos.
―Primeiro as damas! – Noah falou, com um sorriso nervoso nos lábios.
―Ok, vamos contar até três. – eu falei, olhando para Flora. Ela acenou, eu peguei a mão dela, e fomos para trás respiramos e contamos― Um... Dois... Três. E corremos para fora do vagão e simplesmente voamos por entre o vão do trem e do prédio. Caímos em um chão duro cheio de pedras, senti pontadas nos meus joelhos, me levantei, limpei e olhei para Flora, que sorria como uma criança e vimos Noah cair ao nosso lado, gritando de tão empolgado.
― Escutem todos! Meu nome é Eric! Sou um dos líderes da sua nova facção! – grita um homem com voz áspera do outro lado do telhado. Ele deve ser três anos mais velho que eu, com piercings nas sobrancelhas e cabelos loiro escuro, penteado para trás em um topete pequeno, com tatuagens nos braços e nos dois lados do pescoço e fica em pé sobre a mureta na beirada do telhado, como se aquilo fosse uma calçada.Fica olhando para todos com um olhar irritado . – Alguns andares abaixo de nós, encontra-se a entrada para membros do nosso complexo. Quem não tiver coragem de pular, não pertence a este grupo. Nossos iniciados terão o privilégio de ir primeiro.
―Você quer que nós pulemos? – Noah perguntou, ao meu lado, Eric olhou para ele com o olhar que dizia sim.
―Sim. – fala Eric, com um olhar zombeteiro olhando para Noah.
―Tem água lá embaixo ou algo do tipo? – o outro Garoto da Erudição perguntou, Eric Bufou e respondeu:
―Você vai ter que pular para ver. Quem vai ser o primeiro?
Todos ficamos em silêncio, alguns cochichavam outros só se olhavam, Eric parecia irritado demais, eu troquei olhares com Flora e Noah, até que me empurram para frente e eu olhei para trás e vi um garoto ruivo com um sorriso de deboche e os amigos acompanhando, rindo. Olhei para frente, todos olhando para mim, eu olhei para Eric, que me olhava com curiosidade, esperando que eu fosse para frente.
―Careta, espero que você não tenha medo de altura. – ele falou rindo e descendo da mureta.

Eu andei até a mureta, apoiei minhas mãos para olhar para baixo, quando me inclinei, eu senti vários arrepios na espinha. Eu não tenho medo de altura igual Tobias, mas é alto e eu não sei o que tem lá embaixo. Subi na mureta com dificuldade, olho para eles Flora e Noah me olhavam com pena, assim coma alguns outros, mas o ruivo e o grupinho de idiotas riam, olhei para Eric, que ria e arqueou uma das sobrancelhas. Me virei para o buraco e puxei todo ar que eu podia para os meus pulmões, fechei os olhos e pulei para morte ou não.

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